Você sonha em
viver viajando?
Sei que viajar é o sonho de muita gente. As imagens do mar caribenho, da
arquitetura europeia, das curiosas culturas asiáticas, das montanhas nevadas
sempre nos instigam a querer ver aquilo com nossos próprios olhos. Mas não precisa
ir muito longe não, aqui mesmo em Minas Gerais conheço gente mais velha que
sonha em ver o mar por exemplo. Ele está ali, tão perto! As vezes me pergunto,
por que não foi ver ainda? Sim, sei que existem as dificuldades, a falta de
grana, de tempo. Mas será que esse é o real motivo?
Se o preço de passar uma noite no ônibus para
realizar o sonho de conhecer o mar pode ser impensável para alguns o que dizer
do preço de viver viajando? Não me refiro ao custo financeiro, que aliás é
assunto para outro post e sei que o quanto gasto nas minhas viagens vai
surpreender muita gente. Me refiro ao quanto você está disposto a se doar. Se
você pensa que para viver viajando tem que ser rico e viver na luxúria,
desculpe mas você não sabe nada sobre viver viajando. Bem, não da forma como eu e tantas pessoas que eu conheço
hoje viajam. Deixa eu tentar esclarecer então:
O que é viver viajando?
Viver viajando é o que
muita gente chama de nomadismo. Antigamente se viajava constantemente para
aproveitar as melhores condições de clima, de colheita, de rebanho para a
própria subsistência e sobrevivência. Ou seja, você dependia do lugar físico.
Hoje, graças à internet essa dependência não é mais necessária e muita gente
como eu viaja por motivos opostos aos dos nossos antepassados nômades. Temos
uma ferramenta poderosa que nos faz independentes do lugar físico e claro
financeiramente também. Por causa da internet, somos nômades digitais. Eu posso
aceitar um convite para ir para qualquer lugar do mundo hoje porque eu não
tenho nenhum laço com um lugar fixo.
E mesmo
que esse laço exista, ele será temporário. Faz 10 anos que eu não tenho um
empregador fixo (quando eu tinha 16 anos eu trabalhava em um escritório de uma
corretora, vendendo seguros) e mesmo quando eu escolhi ou escolho trabalhar
para alguém, seja como piloto, jardineiro, garçom ou pintor de casa, desde do
início deixo claro que será uma condição temporária. Sim posso passar meses em
algum lugar, como já passei “morando” nos EUA e na Tailândia por exemplo, mas
essa liberdade de poder escolher onde e quando e por quanto tempo morar que me
faz um vagamundo, um nômade digital ou alguém que vive viajando.
Não é para todo mundo!
Sei que
esse estilo de vida parece um sonho, quase um conto de fadas para muita gente.
E quando eu conto como eu levo minha vida, muita gente afirma que quer viver
assim também. “Será mesmo?”, eu me pergunto. Viver na estrada têm suas
dificuldades também e principalmente no começo, as dificuldades financeiras não
são apenas uma preocupação, mas também uma realidade. A distância e a saudade
dos familiares e pessoas próximas, o aperto no peito das despedidas constantes
de amigos que você faz nas viagens, a dificuldade de se manter um
relacionamento amoroso (apesar de conhecer vários casais que viajam juntos), a
falta de uma rotina para manter a atividade física, o tempo que você dorme, a
hora que você come. Tudo isso faz falta. E as dificuldades não param por aí.
Muitas delas acabam virando posts aqui no blog como: Ter que comer comida esquisita, não ter assento em uma longa
viagem de trem na China, ter entrada negada na alfândega
de alguns países, enfrentar tempestade no Atlântico enquanto pilotava, presenciar um desastre que matou mais de 20 pessoas ao meu redor,
entre outros.
Esses são alguns dos preços que pagamos para viver esse estilo
de vida, para viver essa liberdade. Mas para quem sonha em viver assim, não
tenho dúvida ao afirmar, vale muito a pena! Mas você que sonha com isso tudo,
será que é seu sonho mesmo? Será que é o estilo de vida que te atrai ou a
aparente liberdade dos problemas do seu dia a dia? Se você viaja para fugir dos
problemas e das aflições, acredite, eles vão te seguir onde quer que você vá.
Porque eles estão dentro de você. Se aquietar, se conhecer, controlar seus
pensamentos, preocupações e medos é um dos primeiros passos que você precisa
dar antes que você decida “jogar tudo para o alto” e viver viajando.
Qual o seu sonho?
Se esforçar para descobrir seus próprios sonhos e viver sua
própria vida deveria ser objetivo de todos. Mas vamos crescendo, nos
“amadurecendo”, nos especializando nas nossas profissões e sem querer nos vemos
vestindo as máscaras que a sociedade nos exige, seguimos o fluxo. Viramos
cascas, superfícies e esquecemos o que há lá dentro. O verdadeiro eu é
negligenciado. Aquietar-se pode ser simples, mas é necessário silêncio. É
necessário calar as vozes do ego e do interior da nossa mente. Talvez
viajar para um lugar distante te ajude a se aquietar. Eu particularmente gosto
muito de me adentrar na natureza, seja numa montanha, floresta, vulcão, deserto
ou mesmo o céu quando eu voo. Onde não há muita gente, onde eu me sinta
conectado com os bichos, com a floresta, com o mar; com a natureza. É a minha
forma, mas cada um tem a sua. Foram nessas viagens e nesses momentos, quando o
mundo parecia congelar que eu me dei conta de que pagaria o preço que fosse
preciso para poder seguir viajando e viver o meu sonho.